É a percepção de formas e cores dos objetos
que possibilita aos corredores traçarem suas rotas e desviarem de
buracos. Essa capacidade ainda propicia aos jogadores de vôlei, basquete
e companhia saber onde estão seus parceiros e adversários. A visão é,
enfim, um sentido altamente valorizado em qualquer forma de exercício. A
notícia positiva é que os globos oculares não apenas contribuem para a
prática esportiva como também são beneficiados por ela. "Manter-se ativo
ao longo da vida aparentemente protege contra fatores de risco para o
glaucoma", afirma a fisiologista Jennifer Yip, da Universidade de
Cambridge, na Inglaterra.
A cientista acompanhou 5650
voluntários por 17 anos e verificou que o grupo dos que malhavam
apresentava uma menor pressão intraocular. "Quando essa medida está
descontrolada, cresce a probabilidade de o nervo óptico ser comprimido, o
que propicia o surgimento de cegueira", relata Marinho Scarpi,
oftalmologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Uma
teoria sugere que a atividade física resultaria em uma drenagem
eficiente do humor aquoso, líquido que preenche e nutre parte do globo
ocular. Se ele não é escoado direito e se acumula, faz pressão no globo,
como se ele estivesse cheio demais. No seu estudo, Jennifer ainda
observou que o abastecimento de sangue nos olhos de quem foge do
sedentarismo é mais eficaz. E isso deixa o olho, digamos, resiliente ao
glaucoma.
O grande medo dos oftalmologistas atendia pelo nome de
musculação. Afinal, especulava-se que ela alavancaria a pressão
intraocular. Contudo, o educador físico Marcelo Conte, da Escola
Superior de Educação Física de Jundiaí, no interior paulista, analisou a
fundo essa história. Após monitorar um grupo de malhadores, ele chegou à
conclusão de que, na verdade, a incidência do problema até diminui com
os exercícios de resistência. "Eles podem ser até benéficos. Tudo
depende da maneira como são realizados", reflete Conte.
Apesar de
ainda haver controvérsia no assunto, o trabalho brasileiro indica que o
melhor caminho é, em vez de levantar poucas vezes um peso quase
insuportável, investir em mais repetições com uma carga leve ou média.
"Se a exigência é enorme em cada movimento, a tendência é que seguremos o
ar. E isso, sim, tende a elevar a pressão intraocular", avisa Conte.
Outros perigos em potencial dentro da academia são os chamados
exercícios isométricos — aqueles em que permanecemos imóveis sustentando
um objeto — e o uso indiscriminado de esteroides e anabolizantes.
O
que surpreende muita gente é a preocupação dos especialistas com a
ioga. E tudo por causa de uma ou outra posição que coloca o corpo de
ponta-cabeça. "Já existem estudos comprovando um grande aumento da
pressão intraocular e a consequente piora de quadros de glaucoma em
praticantes que realizam essas posturas específicas", informa Tiago
Prata, oftalmologista do Hospital Medicina dos Olhos, em São Paulo, e da
Unifesp.
Muito além do glaucoma
Os
contornos e os pigmentos do mundo são ameaçados não apenas por essa
doença como também pela catarata e pela degeneração macular, para citar
outros dois males. Ainda bem que ambos, pelo que revelam descobertas
recentes, são prevenidos com caminhadas, pedaladas... e por aí vai.
"Acredita-se que a melhora sistêmica do organismo como um todo contribua
para esses resultados", aponta Marcelo Conte.
Agora, será que os
esportes teriam o poder de incrementar a visão em si? A hipótese é
discutível, mas, por incrível que pareça, aparentemente, sim. Não, não é
que nosso equipamento natural fique mais potente. Na realidade, é como
se aprendêssemos a utilizá-lo melhor — a isso se dá o título de atenção
visual. Modalidades que exigem reflexos rápidos, a exemplo da esgrima,
do tênis ou até mesmo do futebol, podem fazer com que o cérebro processe
com velocidade extra e maior eficácia os estímulos vindos dos olhos.
"Assim, informações que seriam perdidas, como uma pequena pedra no
caminho que culminaria em um tropeção, passariam a ser notadas sem muita
dificuldade", hipotetiza Ronald Ranvaud, físico do Instituto de
Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo. "A lógica faz sentido.
Porém, como muitos assuntos nessa área, falta comprovação científica",
ressalta. Por via das dúvidas, não custa visualizar o calendário de 2012
com tempo de sobra para os exercícios físicos.
O esporte em prol do olhar
Cuidados
Saiba que medidas tomar para resguardar os olhos durante os exercícios
Óculos especiais
A
bola de squash, por exemplo, pode machucar os globos oculares pra
valer. Use protetores e, no sol, lentes escuras e com filtro.
Lutas
Certifique-se de que você e o seu oponente estão equipados com luvas e, dentro do possível, maneirem na força dos golpes.
Protetor solar
Eles são fundamentais para a pele. Só não aplique demais na testa. O excesso pode escorrer e fazer os olhos arderem.
Aeróbicos
Eles
aperfeiçoariam a drenagem do humor aquoso. Modalidades que demandam
reflexo ainda melhoram o processamento dos estímulos dos olhos.
Musculação
Praticada
moderadamente, ela não oferece riscos e até auxilia no controle da
pressão intraocular, fator de risco para o temido glaucoma.
Atividade física para todos
Pesquisadores
do Hospital Maisonneuve-Rosemont, no Canadá, comprovam: quanto mais
problemas com a visão, mais raras são as saídas de casa para se dedicar à
prática esportiva. "Ora, esse sentido é muito empregado para se
deslocar em um espaço", sintetiza Marinho Scarpi. Felizmente, mesmo quem
padece com alguma deficiência consegue, hoje em dia, suar a camisa. "Só
é necessário buscar orientação especializada, fazer certas adaptações e
ser acompanhado sempre", completa Scarpi.